O medicamento Leuginase, cedido pelo Governo Federal ao Centro Infantil Boldrini, em Campinas, para tratamento da leucemia linfoide aguda, apresentou contaminantes e menor eficácia, segundo pesquisa realizada por cientistas do hospital. O remédio, importado da China, substituiu o Aginasa, de fabricação alemã, que era utilizado pelo Boldrini antes de o Ministério da Saúde passar a comprar o medicamento produzido na China com a substância asparaginase. O responsável pela pesquisa, o cientista André Yunes, garante que a qualidade do remédio chinês, mais barato, é inferior.
Segundo o pesquisador, os contaminantes encontrados no remédio fabricado na China cortam o efeito da asparaginase no corpo do paciente, neutralizando a substância que combate o câncer. Na comparação com o medicamento alemão, André Yunes afirma que a medicação oferecida anteriormente continha somente a substância necessária para o tratamento.
Assim que o Governo Federal substituiu a distribuição da asparaginase pelo medicamento chinês, o Boldrini entrou na Justiça e conseguiu por meio de liminar que o remédio alemão fosse entregue ao hospital. A primeira leva, de 18 caixas, foi paga com recursos da própria instituição. A leucemia linfoide aguda, tratada com esse remédio, atinge em média três mil crianças por ano no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
Em nota, o Ministério da Saúde declarou que a publicação no site do The Lancet Oncology não se refere ao resultado de um estudo científico e, sim, a um manuscrito de interpretação exclusiva do Centro Boldrini sem que outras entidades científicas tenham atestado. Conforme a própria descrição da plataforma, a EBioMedicine aborda desde hipóteses clínicas a achados experimentais. Faz publicações “rápidas” para criar o debate.
A nota segue afirmando que não há nenhum novo achado na publicação. As alegações colocadas no manuscrito foram intensamente discutidas, contestadas e esclarecidas em diferentes instâncias no Brasil, com a participação de pesquisadores, médicos, farmacêuticos, biólogos entre outros profissionais da área da saúde.
O texto omite o resultado da análise feita com o padrão do produto da Beijing realizada pelo INCQS/Fiocruz, órgão oficial do Brasil para atestar a qualidade de medicamento, do Instituto Butantan e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Todos eles mostram a presença de L-asparaginase em sua atividade enzimática. Ainda, pelo INCQS foi comprovado que a identidade e potência do produto estavam dentro do padrão de referência – resultado semelhante de análise feita em San Diego/EUA por Bioduro/Beijing. E o próprio Centro Boldrini demonstrou que in vitro a Aginasa e a Leuginase têm atividade enzimática e citotóxica semelhantes.
Cabe esclarecer que os resultados do estudo feito pelo Centro Boldrini com uma pequena amostra de camundongos e a medida de apenas dois pontos da curva (24 horas e 42 horas) não autorizam qualquer comparação entre si ou extrapolação nem para camundongos nem para seres humanos. O texto ainda confunde impurezas com contaminantes e traz conclusões feitas em placa de Petri que não pode ser extrapolada para vida real.
O Ministério da Saúde informa ainda que 78 hospitais de 15 estados brasileiros fizeram 5.532 aplicações de Leuginase – 80% em crianças – em 738 pacientes, observando que 205 apresentaram toxicidade esperada grau 1 e 2 e 30 pacientes toxicidade esperada grau 3 e 4, sem referência a óbito.
A aquisição do medicamento pelo Ministério da Saúde foi solicitada pela Sociedade Brasileira Oncologia Pediátrica (Sobope), em face ao completo desabastecimento no mercado nacional, e foi discutida com esta, o Conselho Federal de Farmácia, a Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (Sobrafo) e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, tendo o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovado o processo de aquisição.
- Atualizado às 17h53.