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Um em cada seis professores já foi agredido fisicamente em SP, mostra relatório

Um relatório inédito do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, ao qual a CBN teve acesso, expõe um quadro de descaso com itens fundamentais para uma vida escolar saudável e para o desenvolvimento do aprendizado na cidade mais rica do país.

 

POR GUILHERME BALZA

Durante sete meses técnicos do Tribunal de Contas do Município inspecionaram 46 escolas e entrevistaram mais de mil estudantes, professores e gestores. É a primeira pesquisa desse tipo na capital paulista.

Metade dos gestores disse que a ronda escolar da PM é insatisfatória. 18% das unidades já sofreram invasão, assalto ou furto. 16% dos professores e funcionários relataram ter sido vítimas de agressão física por um aluno ou responsável, ou seja, um a cada seis profissionais. Quase 70% já sofreram agressão verbal.

A fiscalização foi realizada no ano passado, quando o secretário de Educação era Alexandre Schneider. Ele deixou a pasta em janeiro e hoje está na iniciativa privada.

“É óbvio que a escola precisa de segurança. É preciso melhorar as rondas escolares, ter um sistema da porta para fora bem planejado, mas o que vai evitar problemas dessa natureza é ir na fonte, tentar entender quem são os nossos estudantes e tentar verificar aqueles que estão com comportamento um pouco diferente e se antecipar. Não é fechando a escola. É o contrário. É fazer um movimento em direção aos alunos, tentando entender o que eles desejam. A escola precisa ouvir mais os seus alunos, trazer os pais mais para perto, e a comunidade precisa tomar conta da escola.”

O relatório identificou que 70% dos diretores não são efetivos; 30% dos servidores administrativos são professores readaptados, que foram afastados da sala por problemas médicos ou psicológicos.

43% dos professores dão aula em mais de uma escola e só 20% estão satisfeitos com o salário. Quase metade das escolas possui disciplinas sem professor.

60% dos professores citaram como um dos principais problemas a falta de participação dos pais. Os técnicos do Tribunal de Contas enviaram mais de 600 bilhetes para os alunos com o link do questionário online. Apenas cinco pais responderam às perguntas.

FALTA DE BIBLIOTECA A PAPEL HIGIÊNICO

Os técnicos do TCM encontraram falhas na infraestrutura. Apenas 14% têm biblioteca, 17% têm laboratório de ciências, dois terços não têm qualquer área verde e só 8% têm sala de artes. Somente uma em cada cinco escolas tem papel toalha e sabonete nos banheiros. Apenas 30% têm papel higiênico.

Só uma escola visitada tem Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros, um documento obrigatório. Metade dos professores disse que não há livros didáticos para todos os seus alunos.

O gerente de políticas educacionais da ONG Todos Pela Educação, Gabriel Corrêa, afirma que é uma escola do começo do século 20 para alunos do século 21.

“São questões muito básicas ainda não resolvidas. Papel higiênico, sabonete… Ou quando falamos de tecnologia, de um laboratório de informática ou de uma rede de wifi. Se a gente fala da importância de manter os alunos na escola, de ter uma escola motivadora, que engaje os alunos para a aprendizagem, essas questões muito básicas precisam estar resolvidas. É até uma questão de dignidade.”

OUTRO LADO

Em nota, a Secretaria de Educação informou que a amostragem analisada representa apenas 1,3% da rede. Segundo a pasta, a cidade possui 73% de gestores efetivos e apenas 9% dos profissionais administrativos são readaptados.

A secretaria informou que a compra de materiais didáticos ou itens de higiene é de responsabilidade de cada escola. Por fim, o órgão afirmou que todas as unidades possuem salas de leitura com acervo atualizado anualmente e que os autos de vistoria estão sendo providenciados em todas as escolas.

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